12 janeiro 2019

Histórias em Quadrinhos no Brasil, seus inimigos ferrenhos e seus incansáveis defensores.


Prof. Álvaro de Moya
Consideradas erroneamente uma forma de expressão nefasta que deveria ser extinta por desviar crianças e jovens dos bons caminhos e ainda por cima atrofiar os cérebros dos leitores transformando-os em marginais irrecuperáveis, as histórias em quadrinhos sofreram implacável perseguição nos EUA. Infelizmente para nós brasileiros, essa onda moralista norte-americana que se iniciou no período da Segunda Guerra, não se restringiu aos States, vindo também a inundar em cheio o Brasil já que em nosso país o reacionarismo sempre se fez presente, não sendo um privilégio dos tempos atuais. Por aqui uma absurda campanha difamatória contra os quadrinhos aconteceu de forma oficial nos anos quarentas, notadamente pelo político Carlos Lacerda. Nessa época foi distribuída entre a população uma famosa cartilha  afirmando que os quadrinhos deveriam ser execrados porque eram inimigos mortais da literatura tradicional,  além de um tenebroso caminho que conduziria  jovens incautos ao banditismo, uma apavorante escola do crime. Tamanhos disparates fizeram com que respeitados escritores e intelectuais mais equilibrados se pronunciassem contra o absurdo equívoco existente em tal campanha. 

Profª. Sonia Bibe Luyten
Professores universitários dentro de suas atividades curriculares foram formando uma resistência contra a difamação orquestrada esclarecendo que os quadrinhos eram, na verdade, uma forma de expressão forte, direta, bela, vigorosa, inovadora. Que essa forma de expressão deveria ser acolhida sem reservas, estudada a fundo, compreendida e divulgada no âmbito acadêmico, como sendo um exemplo positivo da comunicação de massa. Que os quadrinhos não deveriam ser vistos como um inimigo a ser combatido e sim como um poderoso aliado dos docentes na sua árdua tarefa de ensinar, facilitando nas aulas ministradas a compreensão e a assimilação dos ensinamentos. Esses bravos professores, para desconstruir a rede de mentiras sobre os quadrinhos e mostrar o valor que eles continham, usaram de oratória em salas de aulas, fizeram palestras, promoveram debates, escreveram livros e artigos em revistas de prestígio, organizaram mostras e exposições, inclusive a I Exposição Internacional de Quadrinhos, em 1950. Nas universidades eram fortes as resistências, veladas ou explícitas, por parte de muitos que insistiam em não querer enxergar os quadrinhos como uma nova e formidável forma de expressão. Entretanto, tais resistências foram sendo superadas aos poucos até que a força dos quadrinhos se impôs e hoje, além do seu enorme sucesso popular, garantiu oficialmente lugar nas salas das mais respeitadas faculdades e um justo e merecido espaço no pódio científico. 

Prof. Moacy Cirne
A saga das histórias em quadrinhos e sua luta épica para se firmar entre nós como um salutar meio de expressão está em livros diversos escrito pelos bravos e pioneiros professores que nunca foram munidos de visão de raios-x qual a de certo superherói, e ainda assim enxergaram muito além do que outros enxergaram. Um dos bons livros sobre o assunto chama-se Os pioneiros no Estudo de Quadrinhos no Brasil, organizado por Waldomiro Vergueiro, Paulo Ramos e Nobu Chinen, uma edição da Editora Criativo, do ano 2013. Nesse livro estão os depoimentos de professores que foram pioneiros dos estudos das HQs,  pela mudança de conceito e mesmo pela redenção do bom nome dos quadrinhos, entre eles: Álvaro de Moya, Antonio Luiz Cagnin, José Marques de Melo, Moacy Cirne, Sonia Bibe Luyten e Wsssaldomiro Vergueiro. Pow!, bang!, sniff! e kisses!, kisses! procês, amáveis e idolatráveis professores e insignes leitores. 
(28/10/2015)