29 março 2015

O primeiro beijo na boca entre duas senhoras não foi na Globo, foi no Programa do Gugu.


E o Flamengo tentou dar justa causa a Ronaldinho Gaúcho por ele ser heterossexual

Perdi interesse por jogos da seleção brasileira de futebol quando ficou evidente para mim que a chamada equipe canarinha deixou de ser "a pátria de chuteiras" e se tornou um mero produto comercial a mais na grade de programações da Rede Globo de Televisão. Produto deturpado, estragado, falsificado que visa atender o voraz apetite financeiro da emissora, com direito a narradores que nos impingem suas "verdades" e intentam a cada narração nos fazer engolir felinos por leporídeos. Tudo em conluio com a CBF, leia-se Ricardão Teixeirão, autor da belíssima página musical "se vocês pensa qui nóis fumo imbora, nóis enganemo vocês..." Os jogos aqui ou na China acontecem, por determinação expressa da Globo, nos dias e horários que convém à emissora do Plim-plim. Conveniência que para a população sói ser altamente inconveniente. Também o Campeonato Brasileiro de Futebol foi por este caminho, sendo que os times do Brasil são claramente tratados como mercadorias da loja de secos & molhados da emissora do Projac, especialmente o Flamengo, que é do Rio, a cujos jogos nós, os demais brasileiros, nos vemos muitas vezes a contragosto obrigados a assistir semanas inteiras gostemos ou não. E não venham os urubus me dizer que isto se deve ao número grande de torcedores do time. Agora, vê-se nitidamente a Globo dar ao caso Ronaldinho-Flamengo uma importância de fato grandioso que merece ser discutido em todos os horários por todo o povo brasileiro. Não morro de amores por Ronaldinho, não o quereria em meu time, acho que ele não joga nada desde seus tempos de Milan, anos se vão, desde isso. Mas o Flamengo fez o maior alarde ao anunciar que o contrataria, a Globo avalisou e deu tratamento de superstar, tratou como uma contratação grandiosa que iria dar grande importância ao campeonato carioca sempre acanhado que se limita praticamente aos 4 times principais. Agora que tudo deu chabu, como era de se esperar, a presidente do Flamengo anda falando em traição, em honra, em dignidade,  que o time da gávea será "implacável" na busca dos seus interesses, etc.  Zinho, Superintendente Geral das Pinturas de Rodapé na sede do Fla, despeja tonterias similares. Aí vem a Globo e, tendenciosamente pró-Flamengo, anda exibindo um vídeo antigo que provaria que Ronaldinho é um crápula, dado o conteudo supostamente chocante do tal vídeo, pois com ele estaria demonstrado que Ronaldinho, além de dentuço, é inconcebivelmente heterossexual, pois, em regime de campo de concentração, adentrou o quarto de uma senhorita - cherchez la femme - sendo que tal conduta heterrosexualística motivaria uma justa causa ao jogador. Não sou advogado trabalhista, mas pera lá, mesmo que ele tivesse adentrado o quarto de um negão ou um traveco, ao invés do de uma senhorita, em que isto ajudaria o Flamengo? O jogador admitiu conhecer a moça e lá ter passado a noite. Mas e daí, Carvalho? Pode ter passado a noite batendo palminhas com ela entoando "pirulito que bate, bate..." ou fazendo "pedra, papel e tesoura" ou jogando vídeo game ou assistindo um filme água-com-açúcar. Ou mesmo pode ter ido lá tirar uma soneca embalado pela voz maviosa da moçoila, vez que em seu próprio quarto não estava conseguindo dormir. E se de fato fez sexo, como sordidamente insinua o advogado do Flamengo ( evitando dizer com palavras para não ser acusado por injúria ou calúnia ), devemos lembrar que o lendário Garrincha era adepto do sexo na véspera de uma competição. Romário, idem, idem. Garrincha era um homem de cópulas e de copas. Dois dos 5 canecos de ouro que temos a ele devemos. E Romário dizia com todas as letras que jogava melhor quando na vésperas do jogo afogava o penoso anatidae. Somente um juiz tendencioso - neste país não faltam - poderia condenar Ronaldinho com base neste vídeo apresentado e tascar uma justa causa sob tal descabida alegação. Ou um juiz misógino, valha-me Deus! Ou um magistrado que ostente debaixo da toga, certa indumentária que cartolas rubronegros não vem honrando há décados: a camisa do Flamengo.
(Esse texto foi publicado inicialmente nesse blog em 05 de junho de 2012, beeem antes da malfadada Copa do Mundo de 2014 em que os efeitos deletérios da política da Rede Globo de tratar o futebol como mero produto comercial e fonte de lucros astronômicos ficaram mais que evidentes, só não viu quem é cego. Os humilhantes 7x1 fora o baile que a seleção  preconizada pela Globo como maravilhosa, são vergonhosos e conspurcam a gloriosa história do nosso futebol conquistada por craques verdadeiros.)

11 março 2015

Mestre Cedraz, Cosme e Damião, Luiz Gonzaga e os quadrinhistas da Bahia.


Deitado em minha rede ouço tocar o telefone vermelho – presente dos meus amigos Adam West e Burt Ward que o surrupiaram de um bat-set de filmagens de certo bat-seriado. Estendo a mão para o Graham Bell e alguém, falando em Inglês com forte acento britânico, identifica-se como sendo da assessoria de imprensa do popstar Elton Jonh, que vem à Bahia fazer um megashow na Arena Fonte Nova. Com esse seu acentuado sotaque me informa que estou numa seleta lista de convidados para jantar com Sir Elton. But o cara d’ont realize que de há muito tornei-me um anacoreta inveterado, contumaz e renitente, um verdadeiro Greta Garbo dos cartuns, HQs, caricaturas e pinturas, e só saio de casa movido por causa mui, mui relevante, o que não inclui o rega-bofe com Elton e entourage. Vai daí que, buscando caprichar no sotaque britânico, relembrando meus dias de University of Oxford, digo ao mister que declino da honrosa honraria pois já tenho outro jantar agendado com um outro Sir, o famoso Sir Draz, em verdade,  Cedraz, Mestre do Quadrinho Nacional, honra e glória das HQs brasileiras. Dito isso, na companhia de Vítor Souza e Fabiana Janes, chego para jantar com o Mestre Cedraz em um local aconchegante, amplo, espaçoso e de grande beleza, o Cerimonial Cosme e Damião. Presentes no local o rádio e a televisão, cinema, mil jornais, muita gente, confusão e a galera que faz quadrinhos na Bahia, ao menos a maior parte dela. Cedraz, radiante, recebe a todos com sua costumeira bonomia, com um enorme sorriso sertanejo no rosto, feliz de se saber prestigiado por tantos. Sabedor da alta relevância desse encontro afetivo-gastronômico realizado ao ar livre, São Pedro foi mais santo que nunca pois colaborou contendo possíveis intempéries e o Cerimonial fez um evento de primeira, esbanjando profissionalismo e simpatia. No som ambiente predominava a sanfona e a voz de Luiz Gonzaga, o grande Lua, tão sertanejo quanto Cedraz e seus filhos mais famosos, o Xaxado com toda sua turma. E como somos ecumênicos na arte de misturar o que há de bom, os acepipes servidos foram o que há de melhor na culinária afrobaiana, caruru, vatapá, galinha de xinxim, acarajé, abará, farofa de dendê e tantas iguarias de fazer babar qualquer François Vatel. Mas o piéce de résistance foi mesmo o carinho do pessoal do Quadro-a-quadro  para com Cedraz. Eles se esmeraram e o grupo organizou um inesquecível evento, onde a tônica maior foi mesmo o carisma de Cedraz, transmitindo a todos os amigos sua energia de homem iluminado. Elton John, my son, sinto muito, mas eu não poderia jamais comparecer a um evento apinhado de gélidas gentes britânicas tendo eu a felicidade de haver sido convidado para ir a um ambiente onde imperou o calor humano de Mestre Cedraz recebendo os amigos num acontecimento onde tudo foi perfeito. Nas páginas do meu livro de memórias essa noite ficará marcada de forma indelével. Abraço, Mestre Cedraz, amigão de todas as horas, a quem muito devo, companheiro de tantas jornadas nos caminhos dos quadrinhos e cartuns.
(Texto publicado originalmente em 17 de setembro de 2014)