11 março 2015

Mestre Cedraz, Cosme e Damião, Luiz Gonzaga e os quadrinhistas da Bahia.


Deitado em minha rede ouço tocar o telefone vermelho – presente dos meus amigos Adam West e Burt Ward que o surrupiaram de um bat-set de filmagens de certo bat-seriado. Estendo a mão para o Graham Bell e alguém, falando em Inglês com forte acento britânico, identifica-se como sendo da assessoria de imprensa do popstar Elton Jonh, que vem à Bahia fazer um megashow na Arena Fonte Nova. Com esse seu acentuado sotaque me informa que estou numa seleta lista de convidados para jantar com Sir Elton. But o cara d’ont realize que de há muito tornei-me um anacoreta inveterado, contumaz e renitente, um verdadeiro Greta Garbo dos cartuns, HQs, caricaturas e pinturas, e só saio de casa movido por causa mui, mui relevante, o que não inclui o rega-bofe com Elton e entourage. Vai daí que, buscando caprichar no sotaque britânico, relembrando meus dias de University of Oxford, digo ao mister que declino da honrosa honraria pois já tenho outro jantar agendado com um outro Sir, o famoso Sir Draz, em verdade,  Cedraz, Mestre do Quadrinho Nacional, honra e glória das HQs brasileiras. Dito isso, na companhia de Vítor Souza e Fabiana Janes, chego para jantar com o Mestre Cedraz em um local aconchegante, amplo, espaçoso e de grande beleza, o Cerimonial Cosme e Damião. Presentes no local o rádio e a televisão, cinema, mil jornais, muita gente, confusão e a galera que faz quadrinhos na Bahia, ao menos a maior parte dela. Cedraz, radiante, recebe a todos com sua costumeira bonomia, com um enorme sorriso sertanejo no rosto, feliz de se saber prestigiado por tantos. Sabedor da alta relevância desse encontro afetivo-gastronômico realizado ao ar livre, São Pedro foi mais santo que nunca pois colaborou contendo possíveis intempéries e o Cerimonial fez um evento de primeira, esbanjando profissionalismo e simpatia. No som ambiente predominava a sanfona e a voz de Luiz Gonzaga, o grande Lua, tão sertanejo quanto Cedraz e seus filhos mais famosos, o Xaxado com toda sua turma. E como somos ecumênicos na arte de misturar o que há de bom, os acepipes servidos foram o que há de melhor na culinária afrobaiana, caruru, vatapá, galinha de xinxim, acarajé, abará, farofa de dendê e tantas iguarias de fazer babar qualquer François Vatel. Mas o piéce de résistance foi mesmo o carinho do pessoal do Quadro-a-quadro  para com Cedraz. Eles se esmeraram e o grupo organizou um inesquecível evento, onde a tônica maior foi mesmo o carisma de Cedraz, transmitindo a todos os amigos sua energia de homem iluminado. Elton John, my son, sinto muito, mas eu não poderia jamais comparecer a um evento apinhado de gélidas gentes britânicas tendo eu a felicidade de haver sido convidado para ir a um ambiente onde imperou o calor humano de Mestre Cedraz recebendo os amigos num acontecimento onde tudo foi perfeito. Nas páginas do meu livro de memórias essa noite ficará marcada de forma indelével. Abraço, Mestre Cedraz, amigão de todas as horas, a quem muito devo, companheiro de tantas jornadas nos caminhos dos quadrinhos e cartuns.
(Texto publicado originalmente em 17 de setembro de 2014)