11 fevereiro 2022

Affonso Manta: um girassol entre os dentes do poeta.

Para o deleite de vocês, leitores de fino trato, vai aqui mais uma dose dos capitosos versos de Affonso Manta, poeta da Bahia, para que todos possam perceber que, além de Gregório de Mattos e Castro Alves, há uma poesia baiana luxuosamente inspirada porém ainda inédita para a maioria das gentes deste país tropical bonito por natureza que, ainda que os fatos insistam em nos contradizer, insistimos em alardear que é um patropi abençoá por Dê. 
O Louco
Enlouqueci, um girassol nasceu na minha boca.
Os pássaros já estão fazendo ninho
Atrás da minha orelha.
Enlouqueci, o azul explodiu em fevereiro.
Vou conhecer Londres no meu bergantim de pirata.
As ruas são-me passarela para bailar.
Não me conheceis, transeuntes?
Não me conheceis, moça de olhos calmos
Do último andar do edifício?
Sou o Louco.
Prometi as chuvas do mês passado.
Prometi as árvores.
Prometi os vinhos.
Prometi este intenso azul de fevereiro.
Faço promessas maravilhosas.
E vede que se cumprem.
Abram as portas.
Chamem vossos filhos.
Chamem vossas noivas.
Os garotos vão rir de mim.
Por acaso, não quereis que as vossas noivas se divirtam?
Não há quem não ache graça
Do meu aspecto excessivo de profeta.
Convidem todo mundo.
Trago uma flor no bolso de dentro do paletó
Para ofertar ao sorriso mais inocente da cidade.
Não tenham medo.
Não faço mal a ninguém.
Sou o Louco.
 

(150314))