10 julho 2018

Parlim, João Gilberto, Ivete Sangalo, Velho Chico


Juazeiro, cidade baiana situada à beira do abençoado Rio São Francisco. Do outro lado do célebre rio fica a pernambucana Petrolina que, em dia pretérito, sequer percebeu a flecha preta lançada pelo ciúme que atingiu em cheio o peito do filho mais ilustre de Dona Canô. Juazeiro - que não é a do Norte, aquela que fica no Ceará - é terra natal de ninguém menos que João Bossanova Gilberto e de Ivete Sangalo, de Luís Galvão, criativo vate dos Novos Baianos. Também é terra natal de Miécio Café, cartunista, caricaturista e promotor de saraus culturais com participação da nata da música brasileira, em sua época. Juazeiro é ainda berço dos craques dos gramados Nunes, que jogou ao lado de Zico no Flamengo, Luís Chevrolet Pereira e de Daniel Alves, sendo que Nunes foi um grande ídolo da torcida flamenguista e os dois últimos escreveram de forma brilhante seus nomes no futebol da Europa. Mas Juazeiro, a querida Juazeiro, é, sobretudo, terra de um grande cara chamado Parlim, um criativo, simpático e profícuo desenhista, quadrinhista, artista gráfico, professor respeitado e de quebra um produtor cultural. No tempo que ali morei, frequentava o estúdio dele e ficava encantado ao ver seu amor à arte transformar-se em concorridas apresentações de mamulengos, títeres, bonifrates, manés-gostosos, franca-tripas, fantoches ou que nome mais tenham, animadas oficinas de desenho para guris, e também em bloco infantil de carnaval, em álbuns de quadrinhos que versam sobre fatos e crendices da região são-franciscana, e da própria história local que envolve sua querida Juazeiro, como o seu "A guerra de Canudos em Quadrinhos". Parlim é retadim. Um grande cara, um caráter maravilhoso, um sertanejo sem máculas, um coração enorme, uma alma de criança cheia de amor pelas artes, pelos amigos e por Juazeiro que, ao lado de sua família, compõem suas maiores querências. Desde que retornei a Salvador nunca mais voltei à Juazeiro. Mas não é por falta de saudades, que estas são muitas. Saudades do Velho Chico, de suas águas, suas ilhas, de caminhar com a namorada pela orla da cidade sentindo a aragem vinda do rio, de beber uma cerveja nos barzinhos à beira do São Francisco, jogando conversa fora, de comer surubim e carne de bode com pirão, de passear na vizinha Petrolina, saudades imensas de alguns ótimos amigos juazeirenses que lá fiz. Entre eles, o amável Parlim, ser humano excepcional, um artista dos bão, um autêntico João Gilberto das artes gráficas.
(02/08/2011)
Ao Parlim, in memoriam.