11 agosto 2016

Martíssima, maior camisa 10 do Brasil / Umas minas que eu amo 2

Da cuca criativa e atenta de Nelson Rodrigues, escritor, cronista esportivo e torcedor do Flu, nasceu a definição mais exata sobre o futebol brasileiro para nós, brazucas: "A seleção é a pátria de chuteiras." Uau! O cara sabia o que estava dizendo. O país parava em dias de jogos do chamado escrete canarinho para se inebriar com o show dos nossos craques, verdadeiros artistas que nos encantavam e de quebra encantavam todo este imenso planeta. Infelizmente a nefasta corrupção que assola nosso solo e não nos dá uma trégua, contaminou também o nosso dito esporte bretão e tornou a seleção brasileira este triste arremedo que aí está com direito a Dungadas, Zagalladas, Ricardoteixeiradas, Felipemeladas, Josémariamarinadas, Delneroadas, 
Redegloboadas, Galvaobuenadas, e derrotas humilhantes para Bolívia, México, Japão, times dos quais sempre ganhávamos de 15 ou 20. A zero! Com direito a baile, olés, gols de bicicleta, de letra, de chaleira, de glúteo, de bingolim, e o escambau. Sucedeu, por Elza e mais outras, como diria Mané Garrincha - um destes geniais artistas-jogadores - que fui perdendo, perdendo e perdi, como perdeu grande parte dos brasileiros, esse amor desmedido pela seleção, verdadeira veneração. Eis, no entanto, que nos dias atuais baixa em mim o espírito do engajado gajo Vaz de Camões e eu digo "Cessa tudo que a antiga musa canta que outro valor mais alto se alevanta!" Marta. Martinha. Martíssima. Uma camisa 10 autêntica, de futebol sublime, maravilhoso, empolgante, que joga como quem brinca, como quem cria uma arte, uma canção inebriante que nos vai ao âmago da alma. Jogadoras adversárias parecem parar em campo para vê-la desfilar seu futebol-arte. Marta nos trouxe de volta o tão cultuado futebol brasileiro que o mundo aprendeu a amar com Pelé, Mané, Didi, Vavá. Há uma abissal distância entre Marta e todas as outras jogadoras do futebol feminino em todo o planeta-bola. Uma pena para nós, que na nossa própria seleção, só a excepcional camisa 9, Cristiane, também premiada pela FIFA como uma das gigantes do futebol no mundo, chega bem pertinho do talento que Marta exibe nos gramados. Quanto às demais jogadoras, muito posso me enganar, mas ficam ainda bem distantes do talento da dupla Marta e Cristiane. Considerando-se que essas meninas não contam com o devido apoio e as necessárias condições básicas para desenvolver um futebol mais brilhante, sabemos o quanto são guerreiras e o quanto lutam para se manterem motivadas em um esporte que sofre com o preconceito e a falta de apoio oficial. Sim, temos que ser gratos a todas, reconhecer-lhes o empenho e o amor ao futebol feminino, uma grande paixão. Mas gênios não são produzidos em larga escala. Felizmente esse empenho das demais meninas ajuda em muito, é mesmo fundamental para que Marta possa nos brindar a todos com sua arte e comandar as memoráveis vitórias às quais estamos nos acostumando. Há muito tempo eu não sentia esta empolgação por ver alguém jogar futebol neste país. Pelos motivos supracitados e por culpa de quase todos os que integram o universo do futebol, sejam eles empresários do setor, cartolas ou os da crônica esportiva que criam ídolos de pés de barro com coroas de lata nas cabeças. Mancomunados e visando apenas o lucro pessoal levaram o futebol brasileiro a ser o arremedo que aí está. Mas felizmente há Marta, Martinha, Martíssima. Jogando muito e encantando o público do Brasil e do mundo, batendo recordes, somando premiações, ela conquistou com seu futebol o direito a figurar no glorioso panteão dos grandes craques de futebol do Brasil. Ao lado do maravilhoso Pelé, do estupendo Garrincha e outros, lá está, com todo o merecimento, a maravilhosa e igualmente estupenda Marta. Agora em que escrevo esta postagem, nas Olimpíadas do Rio o futebol brasileiro se faz presente com os times masculino e o feminino. Quem quiser que assista o futebol masculino,com suas estrelas sem brilho. Quanto a mim, já sei aonde estarão minha atenção, expectativa, torcida e alegria. A você, Marta querida, meus agradecimentos do fundo da minha alma por haver devolvido a mim e a tantos brasileiros o nosso verdadeiro futebol e a admiração incondicional do mundo inteiro, longe dos interesses financeiros e dos nefandos labirintos do arrivismo. Viva Marta, viva Martinha, viva Martíssima! 
P.S. Este post já está bem longo mas tenho que registrar que pouco depois da postagem a seleção do Brasil enfrentou a da Austrália em partida eliminatória dos Jogos Olímpicos e empatou no tempo normal, avançando para as seminais do torneio. Na disputa por pênaltis o Brasil venceu por 7x6 e a única jogadora a perder uma cobrança de pênalti por nossa seleção foi justamente a magnífica Marta. O Brasil só seguiu em frente na competição graças à sua goleira Bárbara que fez duas defesaças antológicas e às demais jogadoras designadas para as cobranças, e que fizeram isso com enorme competência. Em momento que a melhor jogadora de todos os tempos falhou, as demais atletas brasileiras brilharam quando mais necessário se fez, heroicas, firmes, precisas, personalíssimas.