13 abril 2019

Woody Allen, o cartunista Laerte, o artista plástico Flávio de Carvalho e o mundo dos crossdressers.

Estilistas, costureiros, bordadeiras, correi. É chegada a hora de tesourar, costurar e alinhavar para uma nova vertente que surgiu forte no mundo da moda: o crossdresser. Não que isso seja de fato coisa nova, na verdade a coisa vem de longe. No cinema, entre outras películas, o tema foi abordado pelo cineasta Woody Allen ainda nos anos 70 em um filme intitulado "Tudo o que você sempre quis saber sobre sexo e não tinha coragem de perguntar". Nele, um sisudo pai de família tem o incontrolável impulso de vestir-se às escondidas com as roupas da esposa, passando, assim trajado, horas a fio admirando-se no espelho. Aqui no Brasil, há já algum tempo, graças ao cartunista Laerte, o tema voltou à baila, já que este artista reivindicou para si - e conseguiu, com muita personalidade - o direito de se trajar em público com vestimentas até então consideradas de uso restrito ao mundo feminino. Curiosamente, vale lembrar que mulheres lutaram e ainda lutam muito para conseguir direitos que sempre lhes foram negados. Voto, cargos políticos, empregos, um mundo de coisa. Mas ao mesmo tempo sempre lhes foram franqueadas coisas que aos homens eram negadas, sempre puderam elas desfilar por ruas e ambientes com cabelos cor-de-rosa ou azuis ou verdes sem reações hostis dos varonis. Também nunca sofreram maiores constrangimentos ao usarem indumentárias tidas como sendo de uso exclusivo dos barbados, como calça comprida. Esta até que deu um pouco de trabalho para elas no início mas hoje é mais que normal. Comum é ver-se por aí belas evas envergando chapéus e ternos masculinos, com gravata e tudo. Mulheres acendendo puros em bares e até jogando sinuca sem jamais aparecer uma nega maluca dizendo que aquilo é uma aberração. Quanto aos homens, pobres homens. Tirando os escoceses e povos da Índia, homem com saia não tem vida fácil. Basta lembrar o grande alvoroço que causou o artista plástico Flávio de Carvalho em 1956 ao desfilar pelo Viaduto do Chá, em Sampa, seu Traje Tropical composto de saiote e mangas curtas, deixando estarrecida e indignada a patuleia da pauliceia. Uma multidão seguia atrás do performático artista, gritando agressivamente em seus ouvidos algo assim como: "Viaduto!" "Viaduto!" Sem colher de Chá. No fim das contas, pelo que eu li sobre personalidades brasileiras, quem estava certa mesmo era uma senhorita chamada Luz del Fuego, que não usava roupa masculina nem feminina, preferindo - a título de indumentária - usar sobre seu corpo desnudo apenas uma prosaica e confortável serpente viva. Uma autêntica snakedresser.
(15/03/13)