03 abril 2020

Casal nordestino passeando na Big City.

Em plena megolópole paulistana um casal, tendo sobre suas cabeças signos nordestinos, em momento que sugere ser de merecido relaxamento depois de uma longa e estafante semana de árdua faina, de duríssimo trabalho - posto que nào é nada fácil a vida de imigrantes do nordeste na chamada supercap. E em um dia qualquer de domingo ou feriado lá vão eles caminhando sobre a grama do que deve ser uma grande e arborizada ágora paulistana, embora aí só se avistem concretos, prédios, fumaça. Abraçam-se, rádio na AM, tendo ao fundo o seu conquistado veículo de duas rodas, sorriem e se mostram lépidos e amorosos, enquanto passeiam suas alegrias de viventes felizes, ainda que tenham sido obrigados a deixar a terra natal. São caminhantes gaios e trigueiros, trazem em si o samba, o xote, o baião, a sanfona, o triângulo, a zabumba, o pandeiro, vêm com seus jubilosos trajos domingueiros, esfuziantes qual uma festiva alegoria carnavalesca. 
Esta pintura, fidelíssimos leitores,  não é recente, eu a fiz fiz lá pelo ano 2000, em que fica a tal estação final do percurso vida na terra-mãe concebida, como canta Gilberto Gil, não por coincidência um artista da Bahia, do nordeste. Trata-se de um painel de 1.80 x 1.50m e para fazê-la - além de meu vasto talento pictórico, tão vasto quanto minha proverbial modéstia - lancei mão do velho e sempre prazeiroso método de usar tinta acrílica sobre tela. De quebra, utilizei massa acrílica e também cola e pedaços de tecido para fazer umas colagens com ares dadaístas e assim poder posar de erudito, angariar a admiração geral e captar as atenções e os favores de assaz intelectuais e mui concupiscentes musas.  Depois que acabei de pintar fotografei com minha Rolleiflax e revelou-se minha enorme aptidão para realizar invulgares coisas pictóricas. Na sequência eu então escaneei e dei uma tecladas ao Photoshop pra animar ainda mais este motivo burlesco e brejeiro, assaz criativo, mui inventivo, que tem umas pitadas de minha vivência pessoal de nordestino que um dia deixou para trás sua querência e foi morar por longo tempo em Sampa onde alguma coisa acontecia em meu coração que só quando eu cruzava a Ipiranga e a Avenida São Joào. Também pudera, ainda não havia para mim Rita Lee, a sua mais completa tradução.
(100210)