18 outubro 2022

O cantor Gerônimo, a escritora Aninha Franco, eu e um dos milhões de gaiatos da Bahia


A cada passo um gaiato nato que nos atormenta o dia-a-dia e eis aqui a cidade da Bahia. Meu caro Boca do Inferno, se nações outras deste vasto mundo necessitassem desesperadamente de gaiatos e a Bahia tivesse permissão para exportar tipos que tais, daqui eles sairiam às toneladas acondicionados em infindáveis contêineres, e teríamos um PIB tão elevado que ricos seríamos todos neste afrobaiano torrão. Ser gaiato é qualidade inerente à grande maioria dos baianos. E um sujeito sério como eu não tem vida fácil nesta terra. Por exemplo, quando vou ao Pelô, gosto de almoçar no Restaurante Axêgo. E o sacripanta que é dono do local - cujo nome aqui não declinarei para não dar ousadia - ao me ver chegar me recebe invariavelmente de duas formas. Se estou com meus longos cabelos presos em rabo-de-cavalo, com um largo sorriso grita para mim lá detrás do balcão: "Gerônimo! Seja bem-vindo!", fingindo se equivocar. Depois complementa, com aquele sorrisinho sacana, que eu e o cantante de "Agradecer e abraçar" somos um o focinho do outro, esculpidos e encarnados ou cuspidos e escarrados, como preferirem. Menas verdade, diria nosso amado Presidente Lula. Tenho em casa um espelho que está comigo há muitos lustros - lustros na idade, no espelho nem tanto assim. Esse espelho é de minha inteira confiança, nunca falta com a verdade, por isto mesmo sempre enche minha bola e me afirma que estou a cada dia mais parecido com o Brad Pitt, com o Alain Delon de 30 anos atrás. Já Jerônimo, muito me pesa dizer que seu único e indiscutível atributo de beleza está na pena que costuma usar no alto do cocoruto a título de adereço. Então, prefiro dar um voto de confiança na sinceridade do meu espelho que tem relevantes serviços prestados a este vivente que vos escreve estas mal digitadas linhas. Ah, a segunda forma: se chego ao Axêgo com meus cabelos soltos, as melenas levemente onduladas livres ao vento qual um indômito silvícola alencariano de olhos garços, o tal proprietário me saúda gritando: "Aninha Franco! Que bom lhe ver!" Aninha se alguém ainda não sabe, é dramaturga e escritora entre outros pendores que ostenta. Admiro seu intelecto, mas ser sósia dela não é exatamente o que almejei para mim na vida. Entretanto uma coisa já constatei: quando - segundo o gaiato em questão - "estou" Jerônimo não consigo a façanha de ter mulheres me olhando com os zoim compridos cheios de quebranto, promessas e desejos inconfessáveis. No entanto quando "estou" Aninha Franco, costumo abiscoitar para meu harém algumas núbias curvilíneas e gringas com sardas, queimadinhas de sol e cheias de love to give, sendo que já recebi inúmeros torpedos de morenas frajolas nativas, que mulher baiana quando está a fim de alguém não é de muitos pudores, formalidades e etiquetas. Por via das dúvidas, agora ando sempre de cabelos soltos Pelô afora. E mesmo quando o supracitado sacripanta ao me ver passar sob seu balcão grita para mim: "Aninha Fraaaanco!", respiro fundo, sigo em frente o meu caminho com a tranquilidade de quem está numa boa e nem tchum pra ele. Mais importante é meu harém.
(060414)